Endometriose: O que é, sintomas e tratamentos

A endometriose é uma condição ginecológica envolta em complexidade e desafios à saúde feminina. Afeta aproximadamente 10% das mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo, conforme o mais recente relatório da OMS, de 2023. Porém, este percentual aumenta significativamente na população infértil passando para 25% a 50% e na mulheres com dor pélvica crônica podendo chega a 75% a 80%.

Caracterizada pelo crescimento do tecido endometrial fora do útero, leva a sintomas debilitantes que impactam significativamente a qualidade de vida e, frequentemente, a fertilidade da mulher.

A conscientização sobre a endometriose e a compreensão de sua incidência são fundamentais para promover diagnósticos precoces e tratamentos eficazes.

Endometriose

 

O que é Endometriose?

É uma condição inflamatória crônica e dolorosa resultante do crescimento do tecido semelhante, ao que reveste o interior do útero (endométrio),  para fora da cavidade uterina. Essa proliferação ectópica pode ocorrer em vários locais, incluindo os ovários, as trompas de Falópio, o tecido que reveste a pélvis e, em casos raros, fora da região pélvica. A condição é associada a diversos sintomas debilitantes.

Infelizmente não há cura para a doença, os sintomas podem ser tratados com medicamentos, sendo em alguns casos recomendada a cirurgia. Acometem mulheres independente de etnia e classe social, desde a primeira menstruação até a menopausa.

 

Tipos de Endometriose 

Existem quatro tipos principais, diferindo de apresentação e gravidade, afetando a abordagem para diagnóstico e tratamento. São classificados conforme localização e gravidade das lesões:

  1. Endometriose Peritoneal Superficial: Caracteriza-se pela presença de lesões finas e superficiais no peritônio pélvico.
  2. Endometrioma: Formação de cistos encontrados nos ovários, compostos por tecido análogo ao endometrial e sangue envelhecido. Os tamanhos variam de 1 a 3 centímetros para cistos pequenos e acima de 7 centímetros de diâmetro para cistos maiores.
  3. Endometriose Profunda Infiltrativa: O tipo mais grave, caracteriza-se pela penetração de tecido endometrial em mais de 5 mm sob a superfície do peritônio.
  4. Endometriose encontrada fora da pelve, em casos raros.

 

Em complemento a doença pode ser classificada como mínima, leve, modera ou grave com base as seguintes características:

  • Quantidade de tecido ectópico.
  • Localização.
  • Profundidade.
  • Comprometimento do órgão.
  • A presença e o número de endometriomas e adesões.

 

O que Causa a Endometriose?

A causa exata da endometriose é desconhecida, sendo um tópico de pesquisas e debates contínuos. Diante deste cenário, algumas teorias propostas na literatura sobre a natureza multifacetada do desenvolvimento da endometriose, são apresentadas a seguir:

  • Teoria da Menstruação Retrograda: Sugere que o sangue menstrual contendo células endometriais flui de volta pelas trompas de Falópio e para a cavidade pélvica.
  • Teoria da Metaplasia Celômica: Propõe que as células peritoneais podem se transformar em células endometriais sob certas condições.
  • Fatores Genéticos e Imunológicos: A predisposição genética e as falhas no sistema imunológico também são consideradas fatores contribuintes.
  • Células-tronco que acabam se espalhando pelo corpo através dos vasos sanguíneos e linfáticos.
  • Estrógeno pode vir a aumentar a inflamação, o crescimento e a dor associados à doença.

 

Entretanto causas comumente observadas, indicam que mulheres com as seguintes características tem maior predisposição a desenvolver a doença:

  • Gravidez: nunca tiveram filhos ou tiveram o primeiro após 30 anos de idade.
  • Menstruação: início antes e conclusão depois da idade normal, com período de ciclos mais curtos, intensos e duração superior a 8 dias.
  • Útero: apresentam determinadas anomalias.
  • Uso de Medicamentos: suas mães quando grávidas tomaram determinados medicamentos.

 

Cabe complementar que também foram observadas clusters de mulheres com características em comum com menores chances de desenvolvimento da doença:

  • Gravidez: tiveram mais de 1 filho.
  • Menstruação: início depois da idade normal.
  • Amamentação: sendo realizada por mais tempo.
  • Uso de anticoncepcional oral com dose baixa por longos períodos.
  • Praticam atividade física regularmente.
  • Alimentação saudável.

 

Principais Sintomas da Endometriosa

O impacto da doença é mais agudamente sentido através de seus sintomas, que podem variar de dor debilitante, sangramentos e outros. Entender esses sintomas é crucial para detecção precoce e manejo do tratamento, pavimentando o caminho para uma melhor qualidade de vida e bem-estar das pacientes.

  • Dismenorreia: cólica, dor pélvica crônica, especialmente associada ao período menstrual.
  • Dor pélvica fora dos períodos menstruais.
  • Dispareunia: dor durante ou após a relação sexual.
  • Disquezia: dor ao urinar ou defecar, normalmente durante o período menstrual.
  • Sangramento menstrual intenso ou sangramento entre períodos.
  • Dificuldade para engravidar: em alguns casos podendo chegar a infertilidade.
  • Fadiga.
  • Diarreia.

Ainda, mulheres com endometriose podem não apresentam sintomas tendo uma dor mais perceptível por um certo período, ao urinar ou defecar, durante ou depois do sexo.

 

Diagnóstico para Endometriose

Mesmo diante da uma série de recursos tecnológicos e atualmente disponíveis, o diagnóstico da doença infelizmente pode levar anos. Portanto, recomenda-se como primeiro passo o exame ginecológico clínico, seguido de exames laboratoriais, em especial, o exame de sangue de marcador tumoral CA-125, que nos casos mais avançados da doença apresenta alterações, complementados por exames de imagens para que seja possível visualizar as lesões, em especial são indicados os de laparoscopia, endovaginal, ultrassom e/ou ressonância magnética. Cabe ressaltar que o diagnóstico de certeza, depende da realização da biópsia e respectivos resultados.

 

Tratamentos para Endometriose

A endometriose não tem cura, portanto o tratamento médico é realizado para aliviar os sintomas e na prevenção da progressão da doença. As opções incluem medicamentos para dor e para inflamação, terapia hormonal, e em casos mais graves, cirurgia para remover o tecido endometrial ectópico. A escolha do tratamento depende da severidade dos sintomas, efeitos colaterais, segurança a longo prazo, desejo de gravidez, e a extensão da doença.

 

A inovação dos tratamentos para endometriose com canabinoides

Avaliado em pesquisas como um tratamento menos invasivo e possível de desmame dos medicamentos com grandes efeitos colaterais prescritos para inflamação e dor, o tratamento com Canabidiol, THC e demais componentes da Cannabis para fins medicinais têm crescido tanto no mundo, como no Brasil. O que tem resultado em muitos pacientes para os profissionais de saúde aptos e autorizados à prescrição de canabinoides.

Selecionamos algumas pesquisas a respeito.

Endometriose

Farooqi, T.; Bhuyan, D.J.; Low, M.; Sinclair, J.; Leonardi, M.; Armour, M. Cannabis and Endometriosis: The Roles of the Gut Microbiota and the Endocannabinoid System. J. Clin. Med. 2023, 12, 7071. https://doi.org/10.3390/jcm12227071

O estudo explora a relação entre a endometriose, o Sistema Endocanabinoide (SEC), a microbiota intestinal e o papel vital deles na prevenção do desenvolvimento da endometriose. Principais pontos destacados:

  • Desregulação do sistema e a progressão da endometriose: Este estudo demonstrou o conhecimento atual sobre como a desregulação do sistema endocanabinoide e da microbiota intestinal influencia a progressão da endometriose.
  • Endometriose e o Sistema Endocanabinoide: A endometriose, uma condição crônica apresenta um caminho complexo e opções de tratamento limitadas. O SEC, regulando a inflamação e a percepção da dor, juntamente com a microbiota intestinal, que influencia respostas imunes e equilíbrio hormonal, são sugeridos como importantes na progressão da endometriose. Foi encontrado que a disfunção no SEC e desequilíbrios na microbiota intestinal podem influenciar os sintomas e a progressão da endometriose através de mudanças na expressão do receptor CB1 e níveis circulantes aumentados de endocanabinoides.
  • Administração de THC e CBD: Aqui, a administração de THC e CBD retratou a natureza protetora dos canabinoides exógenos na endometriose. Além disso, os efeitos protetores do SEC no intestino foram observados pelo aumento dos endocanabinoides, incluindo 2-AG, resultando na diminuição da inflamação e na melhoria da permeabilidade intestinal.
  • Exploração terapêutica: Embora exista atualmente uma compreensão limitada sobre a forma como o SEC e os micróbios intestinais interagem entre si, uma compreensão abrangente disto pode permitir que ambos sejam aproveitados na exploração de vias terapêuticas, sendo que os canabinoides podem influenciar a microbiota intestinal na endometriose.

 

 

EndometrioseSinclair J, Collett L, Abbott J, Pate DW, Sarris J, Armour M (2021) Effects of cannabis ingestion on endometriosis-associated pelvic pain and related symptoms. PLoS ONE 16(10): e0258940. https://doi.org/10.1371/journal. pone.0258940

 

A pesquisa analisou 252 participantes que registraram 16.193 sessões de uso de cannabis para tratar sintomas de endometriose entre abril de 2017 e fevereiro de 2020. Os sintomas incluíam cãibras, dor pélvica, dor gastrointestinal, náusea, depressão e baixa libido. Foi explorado o uso de Cannabis para tratar os sintomas de endometriose, como a dor pélvica e sintomas do trato gastrointestinal e outros. Principais pontos destacados:

  • Melhores resultados em mulheres mais velhas: O efeito da relação THC/CBD deu um aumento na eficácia de 1,72 (IC 95% 1,22 a 2,23, p<0,0001) para cada aumento de dez vezes no THC. A idade também teve um efeito estatisticamente significativo, com um aumento na eficácia de 0,26 (IC 95% 0,20 a 0,31, p<0,0001) para cada ano de aumento na idade, com mulheres mais velhas apresentando melhor eficácia global.
  • Resultados de acordo com cada sintoma: Dor pélvica (42,4% de todos os participantes) foi a principal indicação clínica para o uso de Cannabis, seguida de desconforto gastrointestinal (15,2%) e cólicas (14,9%). Náuseas (13,9%) e Depressão (13,2%) e Baixa Libido (0,3%).
  • Eficácia comprovada: O estudo aponta o uso da Cannabis como sendo eficaz em todos os sintomas relatados.
  • Implicações para o Uso Medicinal da Cannabis: Este estudo fornece evidências de que as mulheres estão utilizando cannabis legalmente obtida e de qualidade assegurada para gerenciar os sintomas da endometriose
  • A importância de produtos de Cannabis padronizados e de qualidade garantida (ou seja, potência e proporções de canabinoides) para obter resultados clínicos reproduzíveis se fazem necessários.

 

Prevenção da Endometriose

Embora a prevenção absoluta da endometriose possa não ser atualmente alcançável, uma vez que não existem métodos comprovados para prevenir a endometriose. Contudo, algumas abordagens que podem ajudar a reduzir o risco incluem a manutenção de um estilo de vida saudável, exercícios regulares, e o uso de métodos contraceptivos hormonais, que podem diminuir a quantidade de menstruação e potencialmente reduzir a incidência da condição.

 

Conclusão

A endometriose é uma condição complexa, muitas vezes debilitante e multifacetada que necessita de uma compreensão abrangente para um manejo eficaz. Através do aumento da conscientização e intervenção precoce, há esperança para melhorar a vida das afetadas. À medida que se desvenda os mistérios da endometriose, o caminho a seguir está na educação, empatia e esforços conjuntos em direção a tratamentos inovadores e cuidados de suporte.

 

 

Referências Bibliográficas:

  1. Endometriosis (who.int) 
  2. Saúde da Mulher | Endometriose – Ministério da Saúde
  3. Página inicial – Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Mininamente Invasiva (sbendometriose.com.br) 
  4. Endometriose pode afetar 10% das mulheres – Agência Brasil
  5. Assembleia Legislativa do Estado do Paraná
  6. Cerca de 50% dos casos de Endometriose são hereditários – HCor
  7. Endometriose: a doença está em crescimento ou o diagnóstico melhorou? 

 

Informações que podem ser do seu interesse:

 

Este artigo é voltado exclusivamente para médicos com caráter educativo. Sendo você um paciente ou interessado no tema, reforçamos que este artigo é puramente informativo e não substitui o aconselhamento médico profissional. Sempre consulte um profissional de saúde para discutir suas opções de tratamento.

 

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