Desvendando a Doença de Alzheimer e os estudos com canabinoides

A Doença de Alzheimer (DA) é um distúrbio neurodegenerativo progressivo e fatal, marcado por deterioração cognitiva e memória, declínio nas atividades diárias e sintomas neuropsiquiátricos variados. Essa condição resulta de anormalidades no processamento de proteínas no sistema nervoso central, levando ao acúmulo de fragmentos proteicos tóxicos nos neurônios e espaços intercelulares. Tal acúmulo contribui para a perda neuronal progressiva, particularmente no hipocampo, responsável pela memória, e no córtex cerebral, crucial para funções como linguagem, raciocínio, percepção sensorial e pensamento abstrato.

 

Incidência da Doença de Alzheimer

A DA é a causa mais comum de demência, representando de 60% a 80% de todos os casos. A doença acomete principalmente pessoas entre 60 e 90 anos, podendo aparecer antes e também depois desta faixa de idade, porém com menor frequência. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência no Brasil e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. De acordo com a OMS, estima-se que existam 35,6 milhões de pessoas com DA no mundo, sendo que o número tende a dobrar até o ano de 2030 e triplicar até 2050. Estimativas da Alzheimer’s Disease International informam que o número de pessoas poderá chegar a 74,7 milhões em 2030 e a 131,5 milhões em 2050, devido ao envelhecimento da população mundial.

Atualmente, a DA representa a maior fonte de dependência funcional, necessidade de institucionalização e causa de óbito na população idosa em nosso país.

Incidência Doença de Alzheimer (DA)

Tipos de Alzheimer

Embora essas sejam as categorias principais, a pesquisa continua a revelar mais sobre a complexidade da doença, incluindo subtipos baseados em características patológicas, respostas ao tratamento e progressão dos sintomas. Cada tipo de Alzheimer pode ter características únicas em termos de progressão, sintomas e abordagens de tratamento, refletindo a necessidade de estratégias personalizadas no cuidado e na pesquisa da doença. Confira:

 

       1.Doença de Alzheimer de Início Precoce:

    • Esta forma da doença ocorre em pessoas com menos de 65 anos de idade. Em muitos casos, os sintomas começam a aparecer entre os 30 e os 60 anos de idade.
    • É menos comum do que o Alzheimer de início tardio, representando cerca de 5% a 10% de todos os casos de Alzheimer.
    • Muitas vezes tem uma ligação genética forte, com vários genes já identificados que podem aumentar o risco de desenvolvimento da doença.
    • Sintomas iniciais podem ser sutis, incluindo esquecimento, dificuldade de planejamento e organização, e desafios em gerenciar tarefas no trabalho ou em casa.
    • À medida que a doença progride, os sintomas se tornam mais evidentes, como desorientação, mudanças de humor e comportamento, confusão sobre eventos, lugares e horários, e dificuldades crescentes com a fala e a escrita.
    • Este tipo pode progredir mais rapidamente do que o Alzheimer de início tardio, embora a progressão varie significativamente entre indivíduos.

       2.Doença de Alzheimer de Início Tardio:

    • É a forma mais comum da doença, ocorrendo em pessoas com 65 anos de idade ou mais.
    • Embora a genética desempenhe um papel, os fatores de risco ambientais e o estilo de vida também são considerados importantes.
    • Este tipo tem uma progressão mais variável e pode ser influenciado por uma ampla gama de fatores genéticos e não genéticos.
    • Os sintomas iniciais são frequentemente leves, como perda de memória de curto prazo, confusão ocasional sobre o tempo ou lugar, e dificuldade em encontrar as palavras certas.
    • Com o tempo, os sintomas se intensificam, levando a alterações significativas na personalidade e no comportamento, perda da capacidade de se comunicar, reconhecer familiares ou amigos, e realizar as atividades da vida diária.
    • Este tipo tende a ter uma progressão mais lenta inicialmente, mas eventualmente leva a uma dependência completa e necessidade de cuidados integrais.

         3.Doença de Alzheimer Familiar (FAD):

    • É uma forma rara de Alzheimer de início precoce que é diretamente causada por mutações em um dos três genes: o gene da presenilina 1 (PSEN1), o gene da presenilina 2 (PSEN2) ou o gene da proteína precursora do amiloide (APP).
    • Indivíduos com uma mutação nesses genes têm quase 100% de chance de desenvolver a doença.
    • A FAD é caracterizada por um início muito precoce, muitas vezes antes dos 65 anos, e é herdada de maneira autossômica dominante, significando que apenas um dos pais precisa passar a mutação para o risco de desenvolvimento da doença ser transmitido.
    • Os sintomas são semelhantes aos da doença de início precoce, mas começam muito mais cedo, muitas vezes antes dos 65 anos, e podem incluir espasmos musculares e convulsões em alguns casos.
    • A progressão é geralmente rápida, com um declínio cognitivo e funcional significativo ocorrendo em poucos anos após o início dos sintomas.

         4.Doença de Alzheimer Esporádica:

    • Refere-se aos casos de Alzheimer onde não há uma história familiar clara ou uma mutação genética conhecida causando a doença.
    • A maioria dos casos de Alzheimer é esporádica e ocorre devido a uma combinação de fatores genéticos, ambientais e do estilo de vida.
    • Os sintomas seguem o padrão do Alzheimer de início tardio, começando geralmente com esquecimentos leves e evoluindo para perda severa de memória, dificuldades de comunicação, e incapacidade de realizar tarefas diárias.
    • A progressão pode variar amplamente entre indivíduos, com alguns experimentando uma progressão lenta e outros um avanço mais rápido da doença.

 

Fases e Sintomas da Doença de Alzheimer (DA)

A progressão da Doença de Alzheimer pode ser dividida em três fases principais que apresentam os seguintes sintomas:

  1. Fase Inicial (Leve):
    • Caracterizada por esquecimentos, especialmente de informações recentes, como conversas ou eventos.
    • Dificuldades sutis com tarefas complexas que exigem planejamento ou organização.
    • Mudanças leves na personalidade ou no comportamento podem ser observadas.
  2. Fase Intermediária (Moderada):
    • Aumento da perda de memória, incluindo eventos importantes e informações pessoais.
    • Dificuldades crescentes em realizar tarefas diárias, como se vestir e tomar banho.
    • Surgimento de confusão ou desorientação em relação a tempo e lugar.
    • Alterações significativas no comportamento, como agitação, irritabilidade ou apatia.
    • Dificuldades linguísticas também são identificadas.
  3. Fase Avançada (Severa):
    • Perda quase total da memória, incluindo reconhecimento de familiares e amigos próximos.
    • Incapacidade de comunicar-se efetivamente.
    • Dependência completa dos outros para cuidados pessoais.
    • Possíveis problemas de saúde física, como dificuldades de mobilidade ou problemas de deglutição.
    • Frequentemente acompanhada por depressão, ansiedade e apatia.

 

Escalas de Gravidade da Doença de Alzheimer

As escalas de gravidade da Doença de Alzheimer são ferramentas clínicas essenciais que ajudam os profissionais de saúde a avaliar o estágio da doença, o comprometimento funcional e as alterações de comportamento de um paciente. Essas escalas fornecem uma base para entender a progressão da doença e planejar o tratamento e o cuidado apropriados. Algumas das escalas mais comumente usadas incluem:

  1. Escala Global de Deterioração de Reisberg (GDS), também conhecida como Escala de Reisberg:
    • Fornece uma descrição detalhada dos sete estágios da doença, desde a ausência de declínio cognitivo até a fase muito severa da doença de Alzheimer. É útil para uma avaliação geral do declínio cognitivo e funcional.
  2. Miniexame do Estado Mental (MMSE) ou Folstein Test:
    • Uma ferramenta de triagem rápida que avalia funções cognitivas incluindo orientação, atenção, memória, linguagem e habilidades visuo-espaciais. Os escores variam de 0 a 30, com pontuações mais baixas indicando maior comprometimento cognitivo.
  3. Inventário Neuropsiquiátrico (NPI):
    • Avalia a presença e a severidade de sintomas neuropsiquiátricos, como delírios, alucinações, agitação/agressão, depressão, ansiedade, euforia, apatia, desinibição, irritabilidade, comportamento motor aberrante, distúrbios do sono e alterações do apetite.
  4. Avaliação Cognitiva de Montreal (MoCA):
    • Semelhante ao MMSE, mas considerada mais sensível para detectar estágios iniciais de declínio cognitivo, especialmente problemas leves de pensamento e memória. Abrange áreas como atenção e concentração, funções executivas, memória, linguagem, habilidades visuoconstrutivas, cálculo, e orientação temporal e espacial.
  5. Escala de Avaliação da Doença de Alzheimer (ADAS-Cog):
    • Uma escala mais detalhada que avalia a gravidade dos sintomas cognitivos mais comuns da doença de Alzheimer. É amplamente utilizada em contextos de pesquisa clínica para avaliar a eficácia dos tratamentos.
  6. Escala de Demência de Blessed-Roth:
    • Foca no impacto do declínio cognitivo nas atividades da vida diária, avaliando áreas como a capacidade de se vestir, higiene pessoal, e manter finanças.
  7. Escala de Atividades da Vida Diária (ADL):
    • Avalia a capacidade do paciente de realizar atividades cotidianas, ajudando a determinar o nível de assistência necessário. Inclui tarefas básicas como alimentar-se, vestir-se e banhar-se, além de atividades instrumentais mais complexas, como gerenciar medicamentos e finanças.
  8. Escala de Atividades Instrumentais da Vida Diária (IADL):
    • Concentra-se em atividades diárias mais complexas que são necessárias para viver de forma independente na comunidade, como fazer compras, preparar refeições, usar o telefone, gerenciar medicamentos, e lidar com finanças.

Cada uma dessas escalas tem seus próprios pontos fortes e limitações, e a escolha da escala apropriada depende dos objetivos específicos da avaliação e do contexto clínico. O uso combinado de múltiplas escalas pode oferecer uma visão mais abrangente do estado do paciente, facilitando um planejamento de cuidado mais informado e personalizado.

 

Escala Global de Deterioração de Reisberg (GDS)

Exemplo da Escala Global de Deterioração de Reisberg GDS é útil para profissionais de saúde avaliarem a progressão da doença de Alzheimer e outras demências, facilitando o planejamento do tratamento e dos cuidados necessários conforme a doença avança.

 

Fatores de Risco

Embora a etiologia exata permaneça indefinida, a predisposição genética é amplamente reconhecida. A DA constitui a forma predominante de demência neurodegenerativa em idosos, correspondendo a mais da metade dos casos de demência nesta população. Vários fatores podem aumentar o risco de uma pessoa desenvolver a DA. Estes incluem:

  • Idade: O risco aumenta significativamente após os 65 anos de idade.
  • Genética: Histórico familiar e certos genes (como o APOE ε4) estão associados a um risco maior.
  • Fatores Cardiovasculares: Hipertensão, colesterol alto, obesidade e diabetes podem contribuir para o risco de DA.
  • Traumatismo Craniano: Lesões na cabeça podem aumentar o risco de desenvolver a doença.
  • Estilo de Vida e Fatores Ambientais: Sedentarismo, dieta pobre, fumo e exposição a certos poluentes ambientais também podem influenciar o risco.

 

Prevenção

Embora não haja uma maneira garantida de prevenir a DA, algumas estratégias podem ajudar a reduzir o risco:

  • Manter a Atividade Mental: Atividades que estimulam o cérebro, como leitura, jogos de tabuleiro e quebra-cabeças, podem ajudar a manter a função cognitiva.
  • Exercícios Físicos: A atividade física regular pode ajudar a reduzir o risco de DA ao manter a saúde do coração e dos vasos sanguíneos.
  • Dieta Saudável: Uma dieta rica em frutas, vegetais, peixes e nozes, como a dieta mediterrânea, pode contribuir para a saúde do cérebro.
  • Controle de Fatores de Risco Cardiovascular: Gerenciar a hipertensão, colesterol e diabetes é crucial.
  • Evitar Fumo e Limitar o Consumo de Álcool: Estes comportamentos podem aumentar o risco de desenvolver DA.

 

Diagnóstico da Doença de Alzheimer (DA)

O diagnóstico da DA é predominantemente clínico, iniciando-se com uma avaliação detalhada do histórico médico e um exame físico, seguido por avaliações neuropsicológicas para testar a memória, a função executiva e outras habilidades cognitivas. Realizado por exclusão, o diagnóstico da DA  envolve avaliação de condições como depressão e análises laboratoriais focadas em funções tireoidianas e níveis de vitamina B12.

Embora não exista um teste definitivo para a DA, biomarcadores encontrados no líquido cefalorraquidiano, juntamente com técnicas de imagem cerebral como a ressonância magnética (RM) e a tomografia por emissão de pósitrons (PET), podem ajudar a confirmar a presença de características patológicas da doença e a excluir outras condições.

 

Principais Estudos Científicos sobre a Doença de Alzheimer (DA) e o manejo de Canabinoides

Assessing Cannabidiol as a Therapeutic Agent for Preventing and Alleviating Alzheimer’s Disease NeurodegenerationChen, L.; Sun, Y.; Li, J.; Liu, S.; Ding, H.; Wang, G.; Li, X. Assessing Cannabidiol as a Therapeutic Agent for Preventing and Alleviating Alzheimer’s Disease Neurodegeneration. Cells 2023, 12, 2672. https://doi.org/10.3390/cells12232672

 

O estudo explora o potencial do canabidiol (CBD) em combater a neurodegeneração associada à doença de Alzheimer (DA).

Principais pontos destacados:

  • Neuroproteção e Anti-inflamação: O CBD demonstrou ter propriedades neuroprotetoras e anti-inflamatórias, mitigando déficits cognitivos induzidos por Aβ por meio da modulação da atividade microglial, promoção da liberação de fatores neurotróficos e regulação de genes inflamatórios.
  • Eficácia Terapêutica: Administração de CBD mostrou efeito protetor contra a toxicidade do Aβ tanto in vitro quanto in vivo, juntamente com a melhoria do comprometimento cognitivo em modelos de camundongos.
  • Mecanismos Subjacentes: A análise RNA-seq revelou que o CBD modula a resposta inflamatória e restaura a função sináptica em modelos de DA, sugerindo um mecanismo pelo qual o CBD exerce seus efeitos terapêuticos.
  • Implicações para Diretrizes Nutricionais: Os resultados apoiam a inclusão potencial do CBD nas diretrizes nutricionais futuras para a prevenção da doença de Alzheimer, destacando sua segurança e eficácia como agente terapêutico.

Os resultados fornecem insights sobre como o Canabidiol (CBD) pode ser integrado em estratégias preventivas e terapêuticas para a doença de Alzheimer, enfatizando a necessidade de mais pesquisas para explorar plenamente seu potencial​​.

 

Potential and Limits of Cannabinoids in Alzheimer's Disease Therapy

Abate G, Uberti D, Tambaro S. Potential and Limits of Cannabinoids in Alzheimer’s Disease Therapy. Biology (Basel). 2021 Jun 17;10(6):542. doi: 10.3390/biology10060542. PMID: 34204237; PMCID: PMC8234911.

 

Este estudo explora a viabilidade de utilizar o sistema endocanabinoide como uma opção terapêutica para a doença de Alzheimer (DA).

Os pontos-chave resumidos são:

  • Efeito neuroprotetor dos canabinoides: Descobertas recentes indicam que a modulação dos receptores canabinoides 1 (CB1) e 2 (CB2) pode ter efeitos neuroprotetores, sem as propriedades recreativas e farmacológicas da Cannabis sativa. Os canabinoides mostraram potencial em reduzir a deposição de placas amiloides e estimular a neurogênese no hipocampo.
  • Desafios e limitações: Apesar dos efeitos benéficos, existem limitações significativas, como a determinação da dosagem terapêutica correta e o momento do tratamento.
  • Interseção com outros tratamentos de DA: Enquanto a etiologia da DA não foi completamente revelada, investigar novos mecanismos patológicos é essencial para desenvolver drogas eficazes e seguras. O estudo aponta para a importância de compreender melhor os mecanismos etiopatológicos envolvidos na DA, o que pode fornecer alvos farmacológicos eficazes para o tratamento da doença.

Este resumo abrange os principais aspectos discutidos no estudo, focando no potencial dos canabinoides na terapia da doença de Alzheimer e destacando tanto as oportunidades quanto os desafios associados ao seu uso.

 

Safety and Efficacy of Medical CannabisOil for Behavioral and PsychologicalSymptoms of Dementia: An-Open Label,Add-On, Pilot StudyShelef A, Barak Y, Berger U, Paleacu D, Tadger S, Plopsky I, Baruch Y. Safety and Efficacy of Medical Cannabis Oil for Behavioral and Psychological Symptoms of Dementia: An-Open Label, Add-On, Pilot Study. J Alzheimers Dis. 2016;51(1):15-9. doi: 10.3233/JAD-150915. PMID: 26757043.

 

Este estudo, piloto aberto, investigou a segurança e a eficácia do óleo de cannabis medicinal (MCO) contendo THC como tratamento adicional na redução de sintomas comportamentais e psicológicos de demência (BPSD) em pacientes com doença de Alzheimer (DA).

Os principais pontos e resultados da pesquisa são:

  • Tipo de Estudo e Abrangência: Foi um estudo piloto aberto, de 4 semanas, com 11 pacientes com DA, visando medir a eficácia e segurança do MCO na atenuação dos BPSD como complemento à farmacoterapia.
  • Resultados Principais: Dez pacientes completaram o estudo, mostrando uma redução significativa no escore de gravidade da Impressão Clínica Global (CGI) de 6,5 para 5,7 (p < 0,01) e no escore do Inventário Neuropsiquiátrico (NPI) de 44,4 para 12,8 (p < 0,01). As áreas do NPI com diminuição significativa incluíram delírios, agitação/agressão, irritabilidade, apatia, distúrbios do sono e estresse do cuidador.
  • Conclusão: A adição de MCO ao regime farmacoterapêutico de pacientes com Alzheimer é segura e uma opção de tratamento promissora.

Portanto, o estudo sugere que o óleo de cannabis medicinal pode ser uma abordagem segura e eficaz para tratar sintomas comportamentais e psicológicos em pacientes com doença de Alzheimer, oferecendo uma alternativa promissora ao uso de antipsicóticos, que muitas vezes oferecem apenas melhorias modestas e estão associados a um aumento da mortalidade​​.

 

Delineating the Efficacy of a Cannabis-Based Medicine at Advanced Stages of Dementia in a Murine Model

Aso E, Andrés-Benito P, Ferrer I. Delineating the Efficacy of a Cannabis-Based Medicine at Advanced Stages of Dementia in a Murine Model. J Alzheimers Dis. 2016 Oct 4;54(3):903-912. doi: 10.3233/JAD-160533. PMID: 27567873.

 

O estudo publicado no Journal of Alzheimer’s Disease em 2016, investiga a eficácia de uma medicina baseada em cannabis, especificamente uma combinação de Δ9-tetrahidrocanabinol (Δ9-THC) e canabidiol (CBD), em modelos de camundongos em estágios avançados de demência.

Destaca que, enquanto o tratamento com esses extratos de cannabis reduziu a fenotipia semelhante à Alzheimer em camundongos transgênicos AβPP/PS1 quando administrado cronicamente durante o estágio sintomático inicial, os resultados apresentam que esses canabinoides naturais continuam eficazes na redução do comprometimento da memória em camundongos AβPP/PS1 em estágios avançados da doença. No entanto, eles não foram eficazes em modificar o processamento do Aβ ou em reduzir a reatividade glial associada à deposição aberrante do Aβ, como ocorre quando administrado em estágios iniciais da doença. Este estudo também demonstra que os canabinoides naturais não afetam o comprometimento cognitivo associado ao envelhecimento saudável em camundongos selvagens​​.

Principais pontos destacados no estudo incluem:

  • A combinação de Δ9-THC e CBD foi eficaz na redução do comprometimento da memória em camundongos transgênicos AβPP/PS1 em estágios avançados da doença de Alzheimer.
  • O tratamento não modificou o processamento do Aβ nem reduziu a reatividade glial associada à deposição de Aβ.
  • Os canabinoides não afetaram o comprometimento cognitivo associado ao envelhecimento em camundongos do tipo selvagem.
  • Os efeitos positivos induzidos por Δ9-THC e CBD em camundongos AβPP/PS1 idosos estão associados à redução dos níveis de GluR2/3 e ao aumento dos níveis de GABA-A Rα1 em animais tratados com canabinoides em comparação com animais tratados apenas com veículo.

Este estudo fornece evidências sobre o potencial terapêutico dos canabinoides no tratamento de sintomas de demência em estágios avançados da doença de Alzheimer.

 

Long-Term Cannabidiol Treatment Prevents the Development of Social Recognition Memory Deficits in Alzheimer's Disease Transgenic MiceCheng D, Spiro AS, Jenner AM, Garner B, Karl T. Long-term cannabidiol treatment prevents the development of social recognition memory deficits in Alzheimer’s disease transgenic mice. J Alzheimers Dis. 2014;42(4):1383-96. doi: 10.3233/JAD-140921. PMID: 25024347.

 

Este estudo investigou os efeitos do tratamento de longo prazo com Canabidiol (CBD) na prevenção de déficits de reconhecimento social em camundongos transgênicos de Alzheimer (AβPPSwe/PS1ΔE9), oferecendo insights sobre a interação entre o CBD e os principais aspectos patológicos da doença de Alzheimer (DA). Os camundongos AβPP x PS1 desenvolveram um déficit de reconhecimento social, que foi prevenido pelo tratamento com CBD. Este efeito benéfico do CBD não foi associado a alterações na carga de amiloide ou dano oxidativo. No entanto, o estudo revelou um impacto sutil do CBD na neuroinflamação, colesterol e retenção de fitoesteróis dietéticos, sugerindo uma interação potencialmente benéfica do CBD com os processos patológicos da DA.

Os principais pontos destacados incluem:

  • Prevenção de Déficits de Reconhecimento Social: O CBD preveniu o desenvolvimento de déficits de reconhecimento social em camundongos AβPP x PS1, sugerindo que o CBD pode ter potencial como tratamento preventivo para DA, especialmente relevante para sintomas de retraimento social e reconhecimento facial.
  • Sem Impacto no Amiloide ou Dano Oxidativo: O tratamento com CBD não foi associado a alterações na carga de amilóide ou dano oxidativo, indicando que os efeitos benéficos do CBD podem ser mediados por outros mecanismos além da modulação direta desses marcadores patológicos.
  • Impacto na Neuroinflamação e Colesterol: O estudo indicou um efeito sutil do CBD na neuroinflamação e no colesterol, apontando para a necessidade de investigações adicionais para entender melhor como o CBD influencia esses aspectos da patologia da DA.
  • Retenção de Fitoesteróis Dietéticos: Foi observado um efeito sutil do CBD na retenção de fitoesteróis dietéticos, merecendo investigação futura para explorar o potencial terapêutico dessa interação na AD.

É o primeiro estudo a demonstrar a capacidade do CBD de prevenir o desenvolvimento de déficits de reconhecimento social em um modelo transgênico de DA, fornecendo evidências preliminares que apoiam o potencial do CBD como tratamento preventivo para a doença de Alzheimer, com relevância particular para os sintomas de retraimento social e reconhecimento facial​​.

 

Formas de Tratamento da Doença de Alzheimer (DA)

O tratamento da DA foca em retardar a progressão dos sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Isso é feito através de uma abordagem multidisciplinar que inclui medicamentos (como inibidores da colinesterase e antagonistas dos receptores NMDA), intervenções psicossociais e suporte para as atividades da vida diária. Embora atualmente não haja cura para a DA, intervenções precoces podem ajudar a gerenciar os sintomas e prolongar a independência do paciente.

 

Impacto nos Familiares

O diagnóstico de DA em um familiar traz consigo um impacto significativo, emocional e financeiro, sobre os cuidadores e a família como um todo. A progressiva perda de independência e as mudanças comportamentais exigem uma adaptação constante e podem levar a sentimentos de luto, estresse e sobrecarga. É recomendado que os familiares busquem suporte em grupos de apoio, se informem sobre a doença e considerem o planejamento antecipado de cuidados para enfrentar os desafios que surgem com a progressão da DA.

 

Recomendações e Conclusão

Para médicos e profissionais da saúde, é crucial permanecer informado sobre os avanços na pesquisa, diagnóstico e tratamento da DA. A colaboração com a nossa equipe de consultores especializados pode oferecer acesso a recursos atualizados, estratégias de manejo com canabinoides e suporte aos pacientes e suas famílias. A adoção de uma abordagem holística e empática, reconhecendo os desafios enfrentados pelos cuidadores, é essencial. Encorajamos os médicos a buscar continuamente informações e recursos que possam auxiliar na prestação de cuidados compassivos e eficazes para pacientes com DA e seus familiares, temos uma vasta biblioteca científica à disposição.

Este artigo visa instigar a busca por conhecimento contínuo e a importância da colaboração multidisciplinar no manejo de canabinoides no tratamento da Doença de Alzheimer, sublinhando que, através da prevenção, diagnóstico precoce e suporte adequado, é possível melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias.

 

Referências Bibliográficas:

 

Informações que podem ser do seu interesse:

 

Este artigo é voltado exclusivamente para médicos. Sendo você um paciente ou interessado no tema, reforçamos que este artigo é puramente informativo e não substitui o aconselhamento médico profissional. Sempre consulte um profissional de saúde para discutir suas opções de tratamento.

 

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